quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Entrevista Exclusiva com Luiz Marenco

Entrevista Luiz Marenco
- Dia 02.Outubro.2009, Saguão do Hotel Morotin em Santa Maria antes do show da Expofeira – (por Leonardo Gadea – Acadêmico Jornalismo – Unifra -1º Semestre)


Leonardo Gadea: Quando começaste na área da música, tu imaginavas que tua carreira atingiria tanta aceitação e sucesso, nessas proporções que tem hoje?
Luiz Marenco: Eu comecei a cantar em 89 (esse ano, vai fazer vinte anos), sempre corri atrás de um sonho, de uma idéia que eu tinha do que seria a minha música, do que eu queria fazer e aquilo que eu ouvia.Eu sempre digo que minha faculdade musical foi Jayme Caetano Braun, Noel Guarany e Cenair Maicá, e eu queria fazer aquele tipo de música. Era a música que eu sentia, que me tocava e que me emocionava, se é pra eu cantar, vou cantar o que eu gosto, sempre me preocupei em cantar o que eu gosto, assim estarei cantando uma verdade minha, não mentindo, nisso tu consegues passar pro público essa energia, essa verdade. Com o tempo fomos gravando os discos, gravei o primeiro com Jayme Caetano Braun em 91, posteriormente fui gravando outros, com Gujo Teixeira, Pepe Guerra (Cantor Uruguaio), parte da obra do Noel Guarany, e assim por diante. A partir daí comecei a mostrar a minha cara, o que eu achava da música para o Rio Grande do Sul; o que eu achava que seria uma coisa verdadeira. O público me deu oportunidade, ao ouvir o que eu fazia, e graças a Deus hoje, onde a gente tem ido a juventude é muito participativa, canta junto conosco, pede músicas, sempre nos dando aquela força real pra seguir nesse caminho.
Do sucesso eu não sei, eu faço o que eu gosto e amo o que faço. Graças a Deus eu tenho uma vida maravilhosa, cheia de amigos e tenho o carinho das pessoas, isso que pra mim é importante.

Gadea: É notável que apesar da enorme aceitação e grande abrangência do teu trabalho, este não tem embasamento comercial, é percebível que gravas conforme teu gosto. Concordas com isso?
Marenco: É, realmente, eu sempre me preocupei em cantar o que eu gosto, que daí eu não tô mentindo.Se eu cantar o que gosto, podem acontecer duas coisas: ou as pessoas gostam ou não gostam do que faço. Se alguém vai na loja de discos comprar um disco meu, não precisa nem ouvir na loja, é a mesma coisa sempre,sempre o mesmo tipo de música, se já não gosta, nem ouve, porque vai continuar não gostando, porque eu gosto de fazer o que eu sinto, é a minha verdade, é o que eu adoro fazer.

Gadea: Qual teu conceito, tua análise do ponto atual da tua carreira, em referência ao sucesso?
Marenco: A gente vai amadurecendo, tu na tua profissão, eu na minha, todos, em todas as profissões, vamos amadurecendo conforme o tempo, tu vai aprendendo, vai vendo a maneira correta de fazer as coisas. Desde que gravei o meu primeiro disco (estou no vigésimo agora), eu aprendi muita coisa, por exemplo, tem coisas que fiz no primeiro disco que eu jamais faria nesse agora, é um amadurecimento que tu vai tendo na tua vida profissional, eu tenho muito que melhorar, que aprender,e assim tenho que estar sempre ligado e aberto a esse aprendizado, sempre achar que tem muita coisa pra aprender e está sendo ótimo, tô gostando muito do que faço e acredito que muitas coisas poderão acontecer ainda, não sei o que, porque há um crescimento muito grande da nossa música, da nossa cultura, do nosso regional aqui; hoje estou conversando contigo, há vinte anos atrás, não tinha uma pessoa que viesse me perguntar sobre meu trabalho, hoje existem jornais que falam 100% de cultura gaúcha, existe uma rádio aqui em Santa Maria, a Nativa, 24 horas música gaúcha, como existem outras, então, eu quero dizer que hoje temos um arsenal de mídia ajudando pra que cresça o meu trabalho, não só o meu, de outros colegas meus que cantam, que fazem poemas, que tocam uma guitarra, uma cordeona, cantores, músicos, melodistas, instrumentistas, então o crescimento vai ser amplo pra todos, cada um vai seguir sempre seu trabalho, “mostraaaando” seu trabalho, não é fácil no começo, obviamente, mas tu apostando e querendo isso, tu consegues, é certo.

Gadea: Se sabe que tu já cantaste e gravaste com diversos artistas, inclusive de outros países e gêneros musicais! Existe algum(a) cantor(a) com o qual tu ainda sonhas em cantar junto ou gravar ?
Marenco: Sim, sim eu tenho um sonho de gravar com Jose Larralde, é um cantor maravilhoso. Toda semana eu entro na internet pra ver onde tem uma apresentação dele, é um homem de 71 anos de idade, o maior nome do Folklore, hoje vivo na Argentina, é Jose Larralde, eu ouvia ele desde o meu princípio, tomando mate, até hoje eu o escuto, pra mim é um grande maestro, é um homem que cruzou os tempos, - pela sua idade -, deve cantar já há 50 anos; tanta época, tanto tempo, tanta coisa que cruzou no caminho dele e ele tá cantando até hoje, a mesma coisa que cantava antes! É um homem que ensina, é um homem com quem aprendo muito , então eu tenho um sonho, de um dia gravar uma milonga com ele. Ainda vou conhecê-lo, porque eu tenho amigos na Argentina, que são amigos dele e eu vou me valer desses amigos, porque eu quero que me apresentem esse homem, eu quero conhecer esse homem porque pra mim ele tem um fundamento muito grande.
Em abril deste ano, eu cantei em Paysandú, na gravação do DVD do Jorge Inácio, que é um cantor popularíssimo lá no Uruguay, e lá cantamos junto com a Teresa Parodi, e como nós ficamos três dias juntos lá, conheci e conversei com a Teresa Parodi, que é uma cantora e compositora maravilhosa, fez tanta música linda como: “Pedro Canoero”, “Apurate Jose”, “La vuela Emília”, convidei ela pra gravar uns chamames, e ela aceitou, e vamos gravar, ela é outra pessoa que gosto muito, já gravei com Tarrago Rós, eu adoro o Tarrago, Pepe Guerra, tanta gente que tive o prazer de me aceitarem em seu convívio, e pessoas de uma larga estrada, onde a gente aprende também, com eles.


Gadea: Além do transparente amor pela querência (Rio Grande do Sul), o que mais te motiva a cantar?
Marenco :Porque aquilo que eu escolhi pra cantar foi aceito! “Se eu pego” aqui em Santa Maria, por exemplo, que é um público maravilhoso, todas as vezes que viemos aqui, naquele ginásio da universidade( referiu-se à UFSM) onde cantamos, aquilo lotado, de porta aberta, porque não cabia mais gente, sei lá, quatro mil, cinco mil pessoas, não sei, não tenho uma noção de público, mas tu tá cantando uns chamame, canta uma vaneira, uma milonga, daí no meio da apresentação eu pego o violão e canto uma música sozinho: “Pra o meu consumo”, “Meu rancho” e as pessoas cantam comigo, é isso que me motiva, cada vez mais fazer isso (cantar), porque aquelas pessoas que estão ali, não estão pra dançar, estão pra ouvir, e isso é maravilhoso, a juventude hoje, no ano de 2009, com tanta coisa que “enfiam goela abaixo” pela televisão, pela internet, por tudo que é meio, a juventude do Rio Grande do Sul respeita e ama a sua origem, sua cultura, sua história, isso que me motiva cada vez mais a cantar esse tipo de música e cada vez mais “entrar pra dentro da terra”, me enraizar mais.

Gadea: Qual foi o relato, ou um gesto, uma atitude de um fã, que mais te tocou, que emocionou?
Marenco: Sabe que acontece muito do pessoal jovem, até os mais velhos, virem falar comigo e sempre pedirem pra mim: Marenco não muda teu jeito de cantar, canta sempre isso, não muda. Eu tinha cantores de que eu gostava, que admirava muito, que depois com o tempo foram mudando sua maneira de cantar, seu estilo de música e isso aí, dói pra quem gosta, pra quem se entrega de coração ao trabalho de uma pessoa, isso em qualquer profissão. Mas uma coisa que me emocionou, que eu me emocionei no palco em foi em Caxias do Sul uma vez que estava completamente lotado o local onde nós cantamos, aquele mar de gente, e há alguns metros na minha frente tinha um rapaz, era verão, eu pude observar os braços dele cheios de tatuagem, com brincos nas orelhas, “esses piercieng, no queixo, na boca, por tudo”, e eu olhava pra ele, e ele cantando minhas músicas junto comigo, e aquilo me emocionou, porque tu vê, é uma coisa que eu aprendi, às vezes a gente olha pra uma pessoa, por essa pessoa não andar da mesma maneira que tu andas, tu achas que isso é errado, não ta certo, sei lá, mas é bobagem a gente aprende, acaba sempre aprendendo no mundo, aquilo foi um aprendizado que eu tive, Deus me mostrou, foi uma provação, não é porque a pessoa está cheia de tatuagens, piercings e brincos que não vai amar a terra onde pisa.Tem uma frase que ouvi essa semana e não me esqueci “pise com calma em cima da terra, porque ela é sagrada”, então como é que vou dizer que essa pessoa não respeita o lugar onde vive, não respeita a história dos avós dele, respeita e ele me mostrou, que pode andar com tatuagens, piercings e brincos, mas também gosta da música do Rio Grande do Sul, não só as minhas, as músicas de colegas meus, deve cantar todas deles também, e aquilo me emocionou, emocionou mesmo, porque a gente coloca tantas barreiras, mas é a gente que coloca, porque os outros não colocam, e desde esse momento eu aprendi muita coisa, já há muitos anos eu sei, que não é necessário tu usar uma roupa pra mostrar de onde tu és, o teu coração é que fala de onde tu és, os teus gestos, a tua maneira de ser que fala de onde tu és.

Gadea: Algum projeto futuro em mente ?

Marenco: Eu tô gravando agora um disco com o Lisandro Amaral - que é um cantor que admiro demais - é um projeto maravilhoso só com poemas de Eron Vaz Mattos, com músicas minhas, músicas do Lisandro, músicas de outros companheiros que nós gostamos das melodias, que estão no contexto desse trabalho. Até neste ano num show que viemos aqui (Santa Maria) nós lançamos essa idéia e cantamos a música que dá título ao disco que se chama “Porteira a fora”. To gravando também um disco só com poemas de “Sérgio Carvalho Pereira” que foi meu primeiro parceiro da música, ainda antes do Jayme, ele que me colocou nesse meio da música, e é um livro com fotografias e um CD com 14 músicas sendo que dez são inéditas, inéditas mesmo que estou musicando pra esse disco que ele e o livro vão levar o nome de SUL e desse trabalho mais pra frente faremos um DVD, e talvez seja esse que viremos gravar aqui, quem sabe no Treze de Maio, eu acho maravilhoso aquele teatro.

Gadea: Uma mensagem pro pessoal que acompanha o teu trabalho ?

Marenco: Tchê, eu agradeço a todos eles, todos os amigos que depois verão essa nossa conversa no teu blog, culturainprosa, e dizer que tenho uma gratidão enorme pelo carinho que estão tendo pela minha música, que sempre tiveram e peço que sigam sempre apoiando, não só a minha música, mas apoiando a cultura do Rio Grande do Sul, aí é que vai estar o crescimento, aí é que nós vamos cortar esse mundo véio cantando milonga. Nosso estado ficou tão pequeno pra nossa música, e te digo porque ficou pequeno, porque tu vai em qualquer estado do país hoje tem CTG (até fora do país), nós já cantamos em Brasília , São Paulo , Rio de Janeiro, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Santa Catarina e Paraná a gente vai sempre e tudo é em CTG, a cultura é muito grande e depende de nós todos pra que ela cresça cada vez mais e pra que a gente deixe de herança pra os nossos filhos, nossos netos...

Expectativas para o futuro?

Marenco: Tenho sim, várias idéias e projetos e a expectativa é de que eles dêem certo (risos)...

Uma frase?
Marenco: “Pisem na terra com calma e respeito porque ela é sagrada” (essa frase é indígena)

Um ídolo?

Marenco: Alfredo Zitarrosa, Jose Larralde, Athaualpa Yupanqui, Noel Guarany...

Um livro?
Marenco: “ Enterrem meu coração na curva de um rio”

Um filme?
Marenco: Dança com lobos (Filme desse livro, citei antes)

Uma música?
Marenco: “Pa’l que se vá” (Alfredo ZItarrosa)

Família?
Marenco :É tudo , tudo de bom, é um alicerce , é a vontade e gana vencer , de voltar pra casa , é suporte, tudo de grande, ta mais perto de Deus...

Amigos?
Marenco :Nos enriquecem, nos ensinam, são pedras preciosas que temos que estar sempre admirando e cuidando!

Nas horas vagas?
Marenco:Tchê, eu vou pra fora, eu ouço música, fico com a minha família...

Viagem de fundamento?
Marenco:Quando eu e o Gujo fomos pra Argentina passear, bah foi maravilhosa a viagem!


Um arrependimento?

Marenco :Não , todas as cagadas que fiz, aprendi com elas (risos), o cara não pode se arrepender...

Um sonho?
Marenco: O sonho de conseguir realizar todos os meus, esses projetos de que te falei. Essas minhas vontades de cada vez mais ver a nossa música crescer, não a minha música, quando me refiro à música, falo da música do Rio Grande do Sul. Que cresçam todos aqueles que são merecedores, que têm o respeito do público, que fazem com verdade, com carinho, esses são os que passam mais trabalho, que acreditam numa idéia; como teu mano que escreve (Zeca Alves) ele podia agora fazer um monte de tipo de letra, tudo que é tipo de letra, de qualquer estilo, não, mas ele faz um estilo de letra o Jayme fazia um estilo de letra, Sérgio Pereira, Gujo Teixeira , Eron Vaz Mattos, Xirú Antunes, são merecedores por lutarem.

Uma palavra que te defina?
Marenco: Peleador...

Algo a acrescentar pra os leitores do culturainprosa?
Marenco: Tem que pelear, sempre buscar um caminho, a vida é uma peleia em todos os sentidos na vida pessoal, na vida profissional. Tem que pelear, nós estamos aqui pra pelear no bom sentido, claro, não lutar com armas, e sim com esforço, pelear com amor...