quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Entrevista Exclusiva com Pedro Ortaça



Entrevista com Pedro Ortaça,


21 de novembro de 09, às 11:00AM


sala de estar do Hotel Paraíso, Santa Maria - RS.








Leonardo Gadea: Quantos anos de carreira? Fala um pouco da tua música?

Pedro Ortaça: De disco são trinta e cinco anos, gravei o primeiro em 1976, mas antes já cantava em rodas de amigos, canchas de bocha, comércios de carreiras e guitarreadas, com os amigos e parceiros, então comecei a cantar realmente mais profissional com 17 anos, então faz 50 anos que eu canto, essa cantiga que eu me orgulho muito de cantar. Criar esse estilo juntamente com Noel Guarany, Jayme Caetano Braun e Cenair Maicá, nós criamos esta maneira, esse cancioneiro guarany de poder cantar as missões, cantar o Rio Grande, cantar o ser humano, não só as ruínas, não só as coisas que ficaram como relíquia e lembrança pra nós e às futuras gerações, mas o homem, a pessoa, o ser humano que são os nossos índios, a gente tem que cantar essa história, porque a gente desperta os poderes do país para que deem mais atenção ao nosso índio que é muito sofrido. Nós devemos muito aos índios do Brasil e eu procuro essa maneira de cantar, pra despertar as autoridades para que se voltem e pensem na dívida tão grande que temos com os nossos índios Guaranys.

Gadea: Discos Lançados?

Ortaça: 7 Longa duração (LP) - Long Play mas eu não gosto muito de dizer Long Play , digo longa duração – O 1º Mensagem dos Sete Povos, 2º Chão Colorado, 3º Missões, Guitarra e Herança, 4º Apontando Rumo, 5º Timbre de Galo, 6º De Guerreiro a Payador, 7º Gritos da terra que já foi com a gurizada (se refere a banda que o acompanha hoje) e depois vem mais 5 Cds gravados, e no total são 18, de cantigas missioneiras, essas obras que o povo resolveu no seu pensamento, na sua maneira de pensar e de gostar, de eternizar, como eternizaram já a nossa música, que nós fizemos para as missões, para o Rio Grande do Sul e para o Brasil para que as futuras gerações saibam de onde esse canto vem, e o que ele faz, não só baile, festa, carreira, cavalo, tem que cantar a vida,cantar o passado, presente e fazer sempre uma projeção pra o futuro que é o que eu sempre fiz...


Gadea: Qual o teu conceito da tua carreira hoje? Desse sucesso que se consolidou?

Ortaça: O pensamento que eu seguido rememoro é só de agradecimento, só de carinho, agradecer esse povo maravilhoso desse nosso Rio Grande e do Brasil que gosta tanto da nossa música e que a consagrou, porque quem consagra uma música não é o artista, é o povo que consagra que escolhe porque ele vê que tem mensagem, que tem história e isso é muito importante, então eu só tenho agradecer a esse povo maravilhoso que me deu apoio sempre, continua me dando, e vai dar até o dia que Deus quiser, até o dia que eu ficar por aqui. E daí decerto eles vão mostrar para os netos, (essa gurizada de hoje como você) e dizer em tal época eu conheci esse cantor!!

Gadea: E a convivência com o Jayme Caetano Braun?

Ortaça: Nossa convivência foi muito linda, primeiro conheci o Noel Guarany em 1960 ele com uma cantiga, uma batida de guitarra muito bonita, daí nos tornamos amigos, depois em 1968 conheci o Jayme e fiquei admirado da capacidade do Jayme de fazer versos de improviso, payadas, era um homem culto que percorria o mundo em versos, isso é muito importante ele não cantava só uma região, ele cantava o mundo todo em versos se ele quisesse e isso a gente tem que admirar, por saber que ele, além da capacidade que tinha, tinha como nós, um grande amor pela terra e pela nossa história das missões, do Rio Grande do Sul. Eu trabalhei com o Jayme de 1976 a 1986, na rádio Guaíba no programa Brasil Grande do Sul, eu acompanhava o Jayme e lá o Brasil todo nos escutava, lá nós davamos o nosso recado, nosso carinho pra todos os ouvintes da rádio Guaíba.E isso também nos tornou conhecidos, bastante, e depois claro, foram os discos, programas de televisão, a internet que inclusive hoje em dia é muito importante, porque eu tenho um site, blog não sei dizer como é esse negocio né “porque eu sou índio, e índio se comunica por sinal de fumaça (risos) , e lá as pessoas acessam e tem muitos mais de 100 mil acessos, e eles querem saber o que eu tenho feito, o que eu tenho cantado, o que vou fazer daqui pra frente e eu vou fazer até o dia que Deus quiser mais obras com grandes parceiros que tenho, grandes poetas desse nosso Rio Grande.


Gadea: Algo que já te emocionou no palco? uma atitude de um fã? Ou algum relato de fã?

Ortaça: Já me emocionei muitas vezes, me emociono sempre que subo no palco, por ver o carinho desse povo pela nossa música, que eles sabem realmente quem faz cultura nesse Estado, então isso emociona quando eles aplaudem, sorriem, cantam junto, isto é o maior presente que Deus e o povo pode dar a um artista e eu recebo esse carinho e realmente me emociono, porque dou tudo de mim que eu tiver na música, tocando e cantando pra esse povo maravilhoso que fez eu chegar até aqui porque se não fosse esse povo eu tenho certeza que não teria chegado onde cheguei, e eu só tenho como já te disse, agradecer a esse povo; O carinho depois que desço do palco tanta gente me abraça, me acaricia, senhoras, pessoas idosas, crianças e juventude também vem tirar fotos, me abraçar e dizer “véio” tu não vai morrer, tu tem que continuar cantando nossa terra, isso emociona realmente e eu me emociono muito.

Gadea: Porque esse caminho?

Ortaça: Porque eu senti que tinha o dom da música, que Deus me deu o dom graças a Deus, e eu já tenho meus ancestrais, meu avô Quintino Martins dos Santos tocava muita cordeona de botão, naquele tempo não existia escola, nada, era pegar o acordeon e aprender com a cantiga dos pássaros, com o rumor do vento, é assim que se aprende a tocar mesmo quem toca de ouvido, tanto que a maioria dos artistas não são catedráticos formados em música, são assim, ouviram os pássaros, o rumor do vento, a água, enfim, alí se inspiraram pra fazerem suas músicas, meu avó era assim e uma cordeona de oito baixos ele tocava muito, a minha mãe tambem tocava gaita de oito baixos, meu pai cantava tambem de manhã cedo tomando mate, muitas vezes eu ouvia deitado no quarto, e eu como já tinha no sangue o dom e o gosto pela música é claro que eu iria seguir esse caminho.

Gadea: A música missioneira?

Ortaça: Um dia nos encontramos com o Noel o Cenair e o Jayme, aliás vivíamos juntos por aí, nosso pensamento era o mesmo que nossa região (missões) tivesse um estilo de cantar; porque na serra já tinha Os Irmãos Bertussi; e o primeiro a tocar a nossa música, dita gaúcha, foi um catarinense inclusive, o Pedro Raimundo, que tocou e cantou o Rio grande daquele jeito bonito, quantos anos fazem isso, e é assim que foi tocado e cantado o Rio Grande, os poetas já escreviam a nossa história, mas as missões não tinham um cancioneiro, uma maneira de cantar as missões mais elaborada, porque tem que ter mensagem na letra né, e nós sabiamos disso, então criamos esse estilo de cantar e graças a Deus está consagrado.

Um ídolo? Athaualpa Yupanqui, Cantor e compositor da América Latina.

Um livro? Tenho lido tantos livros importantes, e a gente para se inspirar deve ler muito, pois a leitura é muito importante e é nos livros que a gente aprende. Um dos livros de que gosto porque nos ensina a conviver no mundo por aí, convíver com o poder é “O Príncipe” de Maquiavel.

Uma viagem? (risos) “olha”, já fiz tantas viagens, já imaginou mais de 50 anos cantando por aí, tenho andado bastante, sendo solicitado onde eu vou e encontro sempre esse carinho que eu tava te dizendo, desse pessoal esperando a gente, esperando que a gente dê o recado, como deve ser dado, e que nós damos juntamente com o Gabriel, o Alberto, com o Alber Lopes e com o Luís dos Santos cantando por aí. E isto então, é o que nos emociona muito chegar numa cidade, como chegamos esses dias em Roraima, na Capital, em Boa Vista, quando descemos do avião o pessoal todo estava nos esperando lá, os gaúchos e também os nativos de lá, nos esperando e com aquela esperança de que nós levássemos um canto bonito pra eles, e não se decepcionaram graças a Deus e voltamos com a alma lavada, de alegria, de poder cantar àquele povo, que tava tão ansioso pela nossa presença.Então, são muitas e muitas andanças, que emocionam, sempre nos emocionam.Na 1ª posse do presidente Lula dia 1º de Janeiro 2003, fomos escolhidos para ir à Brasília representar o Rio Grande do Sul, e aquele povo, mais de 200 mil pessoas correndo de um lado pra outro com a esperança no presidente, com a esperança que o Brasil melhorasse, e graças a Deus não nos decepcionou porque ele tem feito um bom governo, tem muitas críticas por aí, mas realmente o Brasil agora está mais reconhecido e respeitado no mundo, mais respeitado ainda através do canto que nós temos, dos estilos diferentes, dos grandes escritores e pensadores que temos.

Uma Música: “Timbre de Galo”, do grande Aparício Silva Rillo, e música minha é quase um hino do Rio Grande ,“todo mundo” canta junto.

Um filme: “Enterrem meu coração na curva de um rio” inclusive tem o livro, esta é história muito linda.

Um arrependimento: Arrependimento eu teria se eu não cantasse o Rio Grande né tchê, e isso eu fiz...(risos)

Um sonho: Eu sonho em ver todo mundo feliz, tem muitas pessoas passando fome, sem roupa, sem casa e eu quero que Deus olhe pra essa gente, Deus olha, mas as autoridades não olham, eu quero que as autoridades pensem assim, porque o Brasil arrecada tanto dinheiro e porque que a renda do Brasil está para meia dúzia e o restante passado necessidades, a classe média também é o grande pagador de impostos do nosso país e tanta gente na periferia das cidades passando fome, frio, isto é a coisa mais triste que tem, eu creio ainda que Deus vai tocar na mente das autoridades para que eles pensem no seu irmão que está passando fome aqui e que resolvam este problema que é muito grave não só no Brasil.

Um projeto futuro: Daqui uns dias nós vamos gravar outro CD com o Gabriel iremos gravar mais um ou dois talvez, porque a cobrança é muito grande, fazem quase cinco anos que não gravamos, não por falta de vontade mas aconteceu um acidente com o Betinho (filho mais novo), daí nos envolvemos com ele e graças a Deus ela tá bem agora, tá tranquilo, feliz, alegre e nós também, então a partir de agora gravaremos dois trabalhos um Cd no início do ano e depois um DVD de cantigas missioneiras.

Gadea: Uma mensagem aos leitores do CulturaInProsa ?

Ortaça: Vocês, minha gente, juventude do Brasil, eu tenho uma confiança muito grande na juventude; ontem deu pra comprovar na apresentação que fizemos na Universidade de Santa Maria, aquela juventude vibrando e cantando junto numa alegria imensa e dando força pra gente (isso, é o mais importante).E o rumo do Brasil está nas mãos da juventude, eu pedi ontem a noite para que vocês (jovens), não esqueçam nossas raízes do Rio Grande, porque vocês são responsáveis para levar muito mais longe a nossa cantiga, e essa fé eu tenho, essa esperança eu tenho e só tenho que agradecer à juventude, às crianças, às pessoas boas, os velhos, mulheres, que sempre defenderam e sempre estão nos defendendo para que nós continuemos cantando; então eu só tenho a dizer que continuem defendendo o que é nosso porque esse Brasil é rico, é rico no sub-solo, é rico de muitas coisas, mas principalmente de gente, e tem que ter gente pra defendê-lo e são vocês que estão aí, que vão defender para que o Brasil não seja dominado por outras nações.

Gracias aos meus amigos que colaboraram, Gustavo Gonzalez, Emerson Terra, Lúcio Rosa e Trajano Jacques!!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Deixo abaixo sugestões de alguns endereços os quais costumo acessar, onde, no meu ponto de vista tem muita coisa boa, no que se refere a cultura: http://www.flickr.com/photos/romulodavila/
Foto...
Música...
Opinião...
Texto...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Entrevista Exclusiva com Luiz Marenco

Entrevista Luiz Marenco
- Dia 02.Outubro.2009, Saguão do Hotel Morotin em Santa Maria antes do show da Expofeira – (por Leonardo Gadea – Acadêmico Jornalismo – Unifra -1º Semestre)


Leonardo Gadea: Quando começaste na área da música, tu imaginavas que tua carreira atingiria tanta aceitação e sucesso, nessas proporções que tem hoje?
Luiz Marenco: Eu comecei a cantar em 89 (esse ano, vai fazer vinte anos), sempre corri atrás de um sonho, de uma idéia que eu tinha do que seria a minha música, do que eu queria fazer e aquilo que eu ouvia.Eu sempre digo que minha faculdade musical foi Jayme Caetano Braun, Noel Guarany e Cenair Maicá, e eu queria fazer aquele tipo de música. Era a música que eu sentia, que me tocava e que me emocionava, se é pra eu cantar, vou cantar o que eu gosto, sempre me preocupei em cantar o que eu gosto, assim estarei cantando uma verdade minha, não mentindo, nisso tu consegues passar pro público essa energia, essa verdade. Com o tempo fomos gravando os discos, gravei o primeiro com Jayme Caetano Braun em 91, posteriormente fui gravando outros, com Gujo Teixeira, Pepe Guerra (Cantor Uruguaio), parte da obra do Noel Guarany, e assim por diante. A partir daí comecei a mostrar a minha cara, o que eu achava da música para o Rio Grande do Sul; o que eu achava que seria uma coisa verdadeira. O público me deu oportunidade, ao ouvir o que eu fazia, e graças a Deus hoje, onde a gente tem ido a juventude é muito participativa, canta junto conosco, pede músicas, sempre nos dando aquela força real pra seguir nesse caminho.
Do sucesso eu não sei, eu faço o que eu gosto e amo o que faço. Graças a Deus eu tenho uma vida maravilhosa, cheia de amigos e tenho o carinho das pessoas, isso que pra mim é importante.

Gadea: É notável que apesar da enorme aceitação e grande abrangência do teu trabalho, este não tem embasamento comercial, é percebível que gravas conforme teu gosto. Concordas com isso?
Marenco: É, realmente, eu sempre me preocupei em cantar o que eu gosto, que daí eu não tô mentindo.Se eu cantar o que gosto, podem acontecer duas coisas: ou as pessoas gostam ou não gostam do que faço. Se alguém vai na loja de discos comprar um disco meu, não precisa nem ouvir na loja, é a mesma coisa sempre,sempre o mesmo tipo de música, se já não gosta, nem ouve, porque vai continuar não gostando, porque eu gosto de fazer o que eu sinto, é a minha verdade, é o que eu adoro fazer.

Gadea: Qual teu conceito, tua análise do ponto atual da tua carreira, em referência ao sucesso?
Marenco: A gente vai amadurecendo, tu na tua profissão, eu na minha, todos, em todas as profissões, vamos amadurecendo conforme o tempo, tu vai aprendendo, vai vendo a maneira correta de fazer as coisas. Desde que gravei o meu primeiro disco (estou no vigésimo agora), eu aprendi muita coisa, por exemplo, tem coisas que fiz no primeiro disco que eu jamais faria nesse agora, é um amadurecimento que tu vai tendo na tua vida profissional, eu tenho muito que melhorar, que aprender,e assim tenho que estar sempre ligado e aberto a esse aprendizado, sempre achar que tem muita coisa pra aprender e está sendo ótimo, tô gostando muito do que faço e acredito que muitas coisas poderão acontecer ainda, não sei o que, porque há um crescimento muito grande da nossa música, da nossa cultura, do nosso regional aqui; hoje estou conversando contigo, há vinte anos atrás, não tinha uma pessoa que viesse me perguntar sobre meu trabalho, hoje existem jornais que falam 100% de cultura gaúcha, existe uma rádio aqui em Santa Maria, a Nativa, 24 horas música gaúcha, como existem outras, então, eu quero dizer que hoje temos um arsenal de mídia ajudando pra que cresça o meu trabalho, não só o meu, de outros colegas meus que cantam, que fazem poemas, que tocam uma guitarra, uma cordeona, cantores, músicos, melodistas, instrumentistas, então o crescimento vai ser amplo pra todos, cada um vai seguir sempre seu trabalho, “mostraaaando” seu trabalho, não é fácil no começo, obviamente, mas tu apostando e querendo isso, tu consegues, é certo.

Gadea: Se sabe que tu já cantaste e gravaste com diversos artistas, inclusive de outros países e gêneros musicais! Existe algum(a) cantor(a) com o qual tu ainda sonhas em cantar junto ou gravar ?
Marenco: Sim, sim eu tenho um sonho de gravar com Jose Larralde, é um cantor maravilhoso. Toda semana eu entro na internet pra ver onde tem uma apresentação dele, é um homem de 71 anos de idade, o maior nome do Folklore, hoje vivo na Argentina, é Jose Larralde, eu ouvia ele desde o meu princípio, tomando mate, até hoje eu o escuto, pra mim é um grande maestro, é um homem que cruzou os tempos, - pela sua idade -, deve cantar já há 50 anos; tanta época, tanto tempo, tanta coisa que cruzou no caminho dele e ele tá cantando até hoje, a mesma coisa que cantava antes! É um homem que ensina, é um homem com quem aprendo muito , então eu tenho um sonho, de um dia gravar uma milonga com ele. Ainda vou conhecê-lo, porque eu tenho amigos na Argentina, que são amigos dele e eu vou me valer desses amigos, porque eu quero que me apresentem esse homem, eu quero conhecer esse homem porque pra mim ele tem um fundamento muito grande.
Em abril deste ano, eu cantei em Paysandú, na gravação do DVD do Jorge Inácio, que é um cantor popularíssimo lá no Uruguay, e lá cantamos junto com a Teresa Parodi, e como nós ficamos três dias juntos lá, conheci e conversei com a Teresa Parodi, que é uma cantora e compositora maravilhosa, fez tanta música linda como: “Pedro Canoero”, “Apurate Jose”, “La vuela Emília”, convidei ela pra gravar uns chamames, e ela aceitou, e vamos gravar, ela é outra pessoa que gosto muito, já gravei com Tarrago Rós, eu adoro o Tarrago, Pepe Guerra, tanta gente que tive o prazer de me aceitarem em seu convívio, e pessoas de uma larga estrada, onde a gente aprende também, com eles.


Gadea: Além do transparente amor pela querência (Rio Grande do Sul), o que mais te motiva a cantar?
Marenco :Porque aquilo que eu escolhi pra cantar foi aceito! “Se eu pego” aqui em Santa Maria, por exemplo, que é um público maravilhoso, todas as vezes que viemos aqui, naquele ginásio da universidade( referiu-se à UFSM) onde cantamos, aquilo lotado, de porta aberta, porque não cabia mais gente, sei lá, quatro mil, cinco mil pessoas, não sei, não tenho uma noção de público, mas tu tá cantando uns chamame, canta uma vaneira, uma milonga, daí no meio da apresentação eu pego o violão e canto uma música sozinho: “Pra o meu consumo”, “Meu rancho” e as pessoas cantam comigo, é isso que me motiva, cada vez mais fazer isso (cantar), porque aquelas pessoas que estão ali, não estão pra dançar, estão pra ouvir, e isso é maravilhoso, a juventude hoje, no ano de 2009, com tanta coisa que “enfiam goela abaixo” pela televisão, pela internet, por tudo que é meio, a juventude do Rio Grande do Sul respeita e ama a sua origem, sua cultura, sua história, isso que me motiva cada vez mais a cantar esse tipo de música e cada vez mais “entrar pra dentro da terra”, me enraizar mais.

Gadea: Qual foi o relato, ou um gesto, uma atitude de um fã, que mais te tocou, que emocionou?
Marenco: Sabe que acontece muito do pessoal jovem, até os mais velhos, virem falar comigo e sempre pedirem pra mim: Marenco não muda teu jeito de cantar, canta sempre isso, não muda. Eu tinha cantores de que eu gostava, que admirava muito, que depois com o tempo foram mudando sua maneira de cantar, seu estilo de música e isso aí, dói pra quem gosta, pra quem se entrega de coração ao trabalho de uma pessoa, isso em qualquer profissão. Mas uma coisa que me emocionou, que eu me emocionei no palco em foi em Caxias do Sul uma vez que estava completamente lotado o local onde nós cantamos, aquele mar de gente, e há alguns metros na minha frente tinha um rapaz, era verão, eu pude observar os braços dele cheios de tatuagem, com brincos nas orelhas, “esses piercieng, no queixo, na boca, por tudo”, e eu olhava pra ele, e ele cantando minhas músicas junto comigo, e aquilo me emocionou, porque tu vê, é uma coisa que eu aprendi, às vezes a gente olha pra uma pessoa, por essa pessoa não andar da mesma maneira que tu andas, tu achas que isso é errado, não ta certo, sei lá, mas é bobagem a gente aprende, acaba sempre aprendendo no mundo, aquilo foi um aprendizado que eu tive, Deus me mostrou, foi uma provação, não é porque a pessoa está cheia de tatuagens, piercings e brincos que não vai amar a terra onde pisa.Tem uma frase que ouvi essa semana e não me esqueci “pise com calma em cima da terra, porque ela é sagrada”, então como é que vou dizer que essa pessoa não respeita o lugar onde vive, não respeita a história dos avós dele, respeita e ele me mostrou, que pode andar com tatuagens, piercings e brincos, mas também gosta da música do Rio Grande do Sul, não só as minhas, as músicas de colegas meus, deve cantar todas deles também, e aquilo me emocionou, emocionou mesmo, porque a gente coloca tantas barreiras, mas é a gente que coloca, porque os outros não colocam, e desde esse momento eu aprendi muita coisa, já há muitos anos eu sei, que não é necessário tu usar uma roupa pra mostrar de onde tu és, o teu coração é que fala de onde tu és, os teus gestos, a tua maneira de ser que fala de onde tu és.

Gadea: Algum projeto futuro em mente ?

Marenco: Eu tô gravando agora um disco com o Lisandro Amaral - que é um cantor que admiro demais - é um projeto maravilhoso só com poemas de Eron Vaz Mattos, com músicas minhas, músicas do Lisandro, músicas de outros companheiros que nós gostamos das melodias, que estão no contexto desse trabalho. Até neste ano num show que viemos aqui (Santa Maria) nós lançamos essa idéia e cantamos a música que dá título ao disco que se chama “Porteira a fora”. To gravando também um disco só com poemas de “Sérgio Carvalho Pereira” que foi meu primeiro parceiro da música, ainda antes do Jayme, ele que me colocou nesse meio da música, e é um livro com fotografias e um CD com 14 músicas sendo que dez são inéditas, inéditas mesmo que estou musicando pra esse disco que ele e o livro vão levar o nome de SUL e desse trabalho mais pra frente faremos um DVD, e talvez seja esse que viremos gravar aqui, quem sabe no Treze de Maio, eu acho maravilhoso aquele teatro.

Gadea: Uma mensagem pro pessoal que acompanha o teu trabalho ?

Marenco: Tchê, eu agradeço a todos eles, todos os amigos que depois verão essa nossa conversa no teu blog, culturainprosa, e dizer que tenho uma gratidão enorme pelo carinho que estão tendo pela minha música, que sempre tiveram e peço que sigam sempre apoiando, não só a minha música, mas apoiando a cultura do Rio Grande do Sul, aí é que vai estar o crescimento, aí é que nós vamos cortar esse mundo véio cantando milonga. Nosso estado ficou tão pequeno pra nossa música, e te digo porque ficou pequeno, porque tu vai em qualquer estado do país hoje tem CTG (até fora do país), nós já cantamos em Brasília , São Paulo , Rio de Janeiro, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Santa Catarina e Paraná a gente vai sempre e tudo é em CTG, a cultura é muito grande e depende de nós todos pra que ela cresça cada vez mais e pra que a gente deixe de herança pra os nossos filhos, nossos netos...

Expectativas para o futuro?

Marenco: Tenho sim, várias idéias e projetos e a expectativa é de que eles dêem certo (risos)...

Uma frase?
Marenco: “Pisem na terra com calma e respeito porque ela é sagrada” (essa frase é indígena)

Um ídolo?

Marenco: Alfredo Zitarrosa, Jose Larralde, Athaualpa Yupanqui, Noel Guarany...

Um livro?
Marenco: “ Enterrem meu coração na curva de um rio”

Um filme?
Marenco: Dança com lobos (Filme desse livro, citei antes)

Uma música?
Marenco: “Pa’l que se vá” (Alfredo ZItarrosa)

Família?
Marenco :É tudo , tudo de bom, é um alicerce , é a vontade e gana vencer , de voltar pra casa , é suporte, tudo de grande, ta mais perto de Deus...

Amigos?
Marenco :Nos enriquecem, nos ensinam, são pedras preciosas que temos que estar sempre admirando e cuidando!

Nas horas vagas?
Marenco:Tchê, eu vou pra fora, eu ouço música, fico com a minha família...

Viagem de fundamento?
Marenco:Quando eu e o Gujo fomos pra Argentina passear, bah foi maravilhosa a viagem!


Um arrependimento?

Marenco :Não , todas as cagadas que fiz, aprendi com elas (risos), o cara não pode se arrepender...

Um sonho?
Marenco: O sonho de conseguir realizar todos os meus, esses projetos de que te falei. Essas minhas vontades de cada vez mais ver a nossa música crescer, não a minha música, quando me refiro à música, falo da música do Rio Grande do Sul. Que cresçam todos aqueles que são merecedores, que têm o respeito do público, que fazem com verdade, com carinho, esses são os que passam mais trabalho, que acreditam numa idéia; como teu mano que escreve (Zeca Alves) ele podia agora fazer um monte de tipo de letra, tudo que é tipo de letra, de qualquer estilo, não, mas ele faz um estilo de letra o Jayme fazia um estilo de letra, Sérgio Pereira, Gujo Teixeira , Eron Vaz Mattos, Xirú Antunes, são merecedores por lutarem.

Uma palavra que te defina?
Marenco: Peleador...

Algo a acrescentar pra os leitores do culturainprosa?
Marenco: Tem que pelear, sempre buscar um caminho, a vida é uma peleia em todos os sentidos na vida pessoal, na vida profissional. Tem que pelear, nós estamos aqui pra pelear no bom sentido, claro, não lutar com armas, e sim com esforço, pelear com amor...