quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Entrevista Exclusiva com Pedro Ortaça



Entrevista com Pedro Ortaça,


21 de novembro de 09, às 11:00AM


sala de estar do Hotel Paraíso, Santa Maria - RS.








Leonardo Gadea: Quantos anos de carreira? Fala um pouco da tua música?

Pedro Ortaça: De disco são trinta e cinco anos, gravei o primeiro em 1976, mas antes já cantava em rodas de amigos, canchas de bocha, comércios de carreiras e guitarreadas, com os amigos e parceiros, então comecei a cantar realmente mais profissional com 17 anos, então faz 50 anos que eu canto, essa cantiga que eu me orgulho muito de cantar. Criar esse estilo juntamente com Noel Guarany, Jayme Caetano Braun e Cenair Maicá, nós criamos esta maneira, esse cancioneiro guarany de poder cantar as missões, cantar o Rio Grande, cantar o ser humano, não só as ruínas, não só as coisas que ficaram como relíquia e lembrança pra nós e às futuras gerações, mas o homem, a pessoa, o ser humano que são os nossos índios, a gente tem que cantar essa história, porque a gente desperta os poderes do país para que deem mais atenção ao nosso índio que é muito sofrido. Nós devemos muito aos índios do Brasil e eu procuro essa maneira de cantar, pra despertar as autoridades para que se voltem e pensem na dívida tão grande que temos com os nossos índios Guaranys.

Gadea: Discos Lançados?

Ortaça: 7 Longa duração (LP) - Long Play mas eu não gosto muito de dizer Long Play , digo longa duração – O 1º Mensagem dos Sete Povos, 2º Chão Colorado, 3º Missões, Guitarra e Herança, 4º Apontando Rumo, 5º Timbre de Galo, 6º De Guerreiro a Payador, 7º Gritos da terra que já foi com a gurizada (se refere a banda que o acompanha hoje) e depois vem mais 5 Cds gravados, e no total são 18, de cantigas missioneiras, essas obras que o povo resolveu no seu pensamento, na sua maneira de pensar e de gostar, de eternizar, como eternizaram já a nossa música, que nós fizemos para as missões, para o Rio Grande do Sul e para o Brasil para que as futuras gerações saibam de onde esse canto vem, e o que ele faz, não só baile, festa, carreira, cavalo, tem que cantar a vida,cantar o passado, presente e fazer sempre uma projeção pra o futuro que é o que eu sempre fiz...


Gadea: Qual o teu conceito da tua carreira hoje? Desse sucesso que se consolidou?

Ortaça: O pensamento que eu seguido rememoro é só de agradecimento, só de carinho, agradecer esse povo maravilhoso desse nosso Rio Grande e do Brasil que gosta tanto da nossa música e que a consagrou, porque quem consagra uma música não é o artista, é o povo que consagra que escolhe porque ele vê que tem mensagem, que tem história e isso é muito importante, então eu só tenho agradecer a esse povo maravilhoso que me deu apoio sempre, continua me dando, e vai dar até o dia que Deus quiser, até o dia que eu ficar por aqui. E daí decerto eles vão mostrar para os netos, (essa gurizada de hoje como você) e dizer em tal época eu conheci esse cantor!!

Gadea: E a convivência com o Jayme Caetano Braun?

Ortaça: Nossa convivência foi muito linda, primeiro conheci o Noel Guarany em 1960 ele com uma cantiga, uma batida de guitarra muito bonita, daí nos tornamos amigos, depois em 1968 conheci o Jayme e fiquei admirado da capacidade do Jayme de fazer versos de improviso, payadas, era um homem culto que percorria o mundo em versos, isso é muito importante ele não cantava só uma região, ele cantava o mundo todo em versos se ele quisesse e isso a gente tem que admirar, por saber que ele, além da capacidade que tinha, tinha como nós, um grande amor pela terra e pela nossa história das missões, do Rio Grande do Sul. Eu trabalhei com o Jayme de 1976 a 1986, na rádio Guaíba no programa Brasil Grande do Sul, eu acompanhava o Jayme e lá o Brasil todo nos escutava, lá nós davamos o nosso recado, nosso carinho pra todos os ouvintes da rádio Guaíba.E isso também nos tornou conhecidos, bastante, e depois claro, foram os discos, programas de televisão, a internet que inclusive hoje em dia é muito importante, porque eu tenho um site, blog não sei dizer como é esse negocio né “porque eu sou índio, e índio se comunica por sinal de fumaça (risos) , e lá as pessoas acessam e tem muitos mais de 100 mil acessos, e eles querem saber o que eu tenho feito, o que eu tenho cantado, o que vou fazer daqui pra frente e eu vou fazer até o dia que Deus quiser mais obras com grandes parceiros que tenho, grandes poetas desse nosso Rio Grande.


Gadea: Algo que já te emocionou no palco? uma atitude de um fã? Ou algum relato de fã?

Ortaça: Já me emocionei muitas vezes, me emociono sempre que subo no palco, por ver o carinho desse povo pela nossa música, que eles sabem realmente quem faz cultura nesse Estado, então isso emociona quando eles aplaudem, sorriem, cantam junto, isto é o maior presente que Deus e o povo pode dar a um artista e eu recebo esse carinho e realmente me emociono, porque dou tudo de mim que eu tiver na música, tocando e cantando pra esse povo maravilhoso que fez eu chegar até aqui porque se não fosse esse povo eu tenho certeza que não teria chegado onde cheguei, e eu só tenho como já te disse, agradecer a esse povo; O carinho depois que desço do palco tanta gente me abraça, me acaricia, senhoras, pessoas idosas, crianças e juventude também vem tirar fotos, me abraçar e dizer “véio” tu não vai morrer, tu tem que continuar cantando nossa terra, isso emociona realmente e eu me emociono muito.

Gadea: Porque esse caminho?

Ortaça: Porque eu senti que tinha o dom da música, que Deus me deu o dom graças a Deus, e eu já tenho meus ancestrais, meu avô Quintino Martins dos Santos tocava muita cordeona de botão, naquele tempo não existia escola, nada, era pegar o acordeon e aprender com a cantiga dos pássaros, com o rumor do vento, é assim que se aprende a tocar mesmo quem toca de ouvido, tanto que a maioria dos artistas não são catedráticos formados em música, são assim, ouviram os pássaros, o rumor do vento, a água, enfim, alí se inspiraram pra fazerem suas músicas, meu avó era assim e uma cordeona de oito baixos ele tocava muito, a minha mãe tambem tocava gaita de oito baixos, meu pai cantava tambem de manhã cedo tomando mate, muitas vezes eu ouvia deitado no quarto, e eu como já tinha no sangue o dom e o gosto pela música é claro que eu iria seguir esse caminho.

Gadea: A música missioneira?

Ortaça: Um dia nos encontramos com o Noel o Cenair e o Jayme, aliás vivíamos juntos por aí, nosso pensamento era o mesmo que nossa região (missões) tivesse um estilo de cantar; porque na serra já tinha Os Irmãos Bertussi; e o primeiro a tocar a nossa música, dita gaúcha, foi um catarinense inclusive, o Pedro Raimundo, que tocou e cantou o Rio grande daquele jeito bonito, quantos anos fazem isso, e é assim que foi tocado e cantado o Rio Grande, os poetas já escreviam a nossa história, mas as missões não tinham um cancioneiro, uma maneira de cantar as missões mais elaborada, porque tem que ter mensagem na letra né, e nós sabiamos disso, então criamos esse estilo de cantar e graças a Deus está consagrado.

Um ídolo? Athaualpa Yupanqui, Cantor e compositor da América Latina.

Um livro? Tenho lido tantos livros importantes, e a gente para se inspirar deve ler muito, pois a leitura é muito importante e é nos livros que a gente aprende. Um dos livros de que gosto porque nos ensina a conviver no mundo por aí, convíver com o poder é “O Príncipe” de Maquiavel.

Uma viagem? (risos) “olha”, já fiz tantas viagens, já imaginou mais de 50 anos cantando por aí, tenho andado bastante, sendo solicitado onde eu vou e encontro sempre esse carinho que eu tava te dizendo, desse pessoal esperando a gente, esperando que a gente dê o recado, como deve ser dado, e que nós damos juntamente com o Gabriel, o Alberto, com o Alber Lopes e com o Luís dos Santos cantando por aí. E isto então, é o que nos emociona muito chegar numa cidade, como chegamos esses dias em Roraima, na Capital, em Boa Vista, quando descemos do avião o pessoal todo estava nos esperando lá, os gaúchos e também os nativos de lá, nos esperando e com aquela esperança de que nós levássemos um canto bonito pra eles, e não se decepcionaram graças a Deus e voltamos com a alma lavada, de alegria, de poder cantar àquele povo, que tava tão ansioso pela nossa presença.Então, são muitas e muitas andanças, que emocionam, sempre nos emocionam.Na 1ª posse do presidente Lula dia 1º de Janeiro 2003, fomos escolhidos para ir à Brasília representar o Rio Grande do Sul, e aquele povo, mais de 200 mil pessoas correndo de um lado pra outro com a esperança no presidente, com a esperança que o Brasil melhorasse, e graças a Deus não nos decepcionou porque ele tem feito um bom governo, tem muitas críticas por aí, mas realmente o Brasil agora está mais reconhecido e respeitado no mundo, mais respeitado ainda através do canto que nós temos, dos estilos diferentes, dos grandes escritores e pensadores que temos.

Uma Música: “Timbre de Galo”, do grande Aparício Silva Rillo, e música minha é quase um hino do Rio Grande ,“todo mundo” canta junto.

Um filme: “Enterrem meu coração na curva de um rio” inclusive tem o livro, esta é história muito linda.

Um arrependimento: Arrependimento eu teria se eu não cantasse o Rio Grande né tchê, e isso eu fiz...(risos)

Um sonho: Eu sonho em ver todo mundo feliz, tem muitas pessoas passando fome, sem roupa, sem casa e eu quero que Deus olhe pra essa gente, Deus olha, mas as autoridades não olham, eu quero que as autoridades pensem assim, porque o Brasil arrecada tanto dinheiro e porque que a renda do Brasil está para meia dúzia e o restante passado necessidades, a classe média também é o grande pagador de impostos do nosso país e tanta gente na periferia das cidades passando fome, frio, isto é a coisa mais triste que tem, eu creio ainda que Deus vai tocar na mente das autoridades para que eles pensem no seu irmão que está passando fome aqui e que resolvam este problema que é muito grave não só no Brasil.

Um projeto futuro: Daqui uns dias nós vamos gravar outro CD com o Gabriel iremos gravar mais um ou dois talvez, porque a cobrança é muito grande, fazem quase cinco anos que não gravamos, não por falta de vontade mas aconteceu um acidente com o Betinho (filho mais novo), daí nos envolvemos com ele e graças a Deus ela tá bem agora, tá tranquilo, feliz, alegre e nós também, então a partir de agora gravaremos dois trabalhos um Cd no início do ano e depois um DVD de cantigas missioneiras.

Gadea: Uma mensagem aos leitores do CulturaInProsa ?

Ortaça: Vocês, minha gente, juventude do Brasil, eu tenho uma confiança muito grande na juventude; ontem deu pra comprovar na apresentação que fizemos na Universidade de Santa Maria, aquela juventude vibrando e cantando junto numa alegria imensa e dando força pra gente (isso, é o mais importante).E o rumo do Brasil está nas mãos da juventude, eu pedi ontem a noite para que vocês (jovens), não esqueçam nossas raízes do Rio Grande, porque vocês são responsáveis para levar muito mais longe a nossa cantiga, e essa fé eu tenho, essa esperança eu tenho e só tenho que agradecer à juventude, às crianças, às pessoas boas, os velhos, mulheres, que sempre defenderam e sempre estão nos defendendo para que nós continuemos cantando; então eu só tenho a dizer que continuem defendendo o que é nosso porque esse Brasil é rico, é rico no sub-solo, é rico de muitas coisas, mas principalmente de gente, e tem que ter gente pra defendê-lo e são vocês que estão aí, que vão defender para que o Brasil não seja dominado por outras nações.

Gracias aos meus amigos que colaboraram, Gustavo Gonzalez, Emerson Terra, Lúcio Rosa e Trajano Jacques!!

5 comentários:

  1. simplesmente meu irmão: PARABÉNS...
    seu Pedro tem o que dizer, diz o que precisamos ouvir e seguir...seu Pedro é GENTE e graças ao bom DEUS tu cruzou o caminho dele, ele cruzou o teu e desta forma pudeste coletar estas poucas mas digníssimas palavras..forte abraço!SUCESSO SEMPRE!

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  2. Nem vou falar muito, o Rafael disse tudo que era necessário!
    Adorei...

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  3. Gadea ... linda entrevista! Nós aqui cada vez mais teus fãs... Abraço dos teus amigos.

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  4. De muito fundamento o blog!!!
    Abraço grande, seguirei!

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