Binho Pires: Minha história começou aqui em São Luiz Gonzaga distrito da Laranja Azeda, onde meu pai e minha mãe já moravam, foi aqui que nasci, então meu pai lidava com o campo lidou a vida inteira (e lida até hoje) e minha mãe era professora, então dessa convivência com o pai de ir pro campo, tínhamos umas terras no pontão com pastagens então levávamos gado pra lá no inverno, tudo que aprendi de campo, de lida, com gado, cavalos e ovelhas eu aprendi com meu pai até meus 12 anos, quando então, terminou minha etapa no colégio que estudava aqui próximo, daí tive que ir pra Santo Ângelo, onde começou minha vida urbana até meus 29, nesse tempo morei em Cascavel em São Sepé rodei por aí um poco, morei na cidade aqui em São Luiz e há três anos estou de volta aqui fora, onde lido com leite que até economicamente não me foi muito rentável financeiramente, mas como qualidade de vida estou muito feliz de estar criando a minha filha aqui onde eu me criei, junto com minha esposa onde passamos bastante tempo junto com nossa filha, se estivéssemos na cidade não seria assim pois ela estaria em uma creche sendo cuidada por outras pessoas, então é uma opção de vida que me faz muito feliz.
Gadea: E o dia-dia no campo, a rotina?
Binho Pires: O meu trabalho é um poco diferente do dia-dia do campeiro que a gente canta, que a gente idealiza numa letra, porque nessa minha região, que é uma região de fronteira, mas não é bem fronteira, tem muito pouca estância e gado mesmo né, essa cultura do soja e do trigo foi tomando conta dessa região, por exemplo aqui estamos cercado por todos os lindeiros a nós, é só plantio.Então a minha lida é mais com leite mesmo nessa lida de ordenhadeira, e a gente tem um “gadinho” num fundo de campo que quando o pai lida dou uma mão, daí a gente traz, banha, remédios pros vermes, fizemos essas coisas que todo mundo sabe. Mas continua a veia campeira no sangue, inclusive ante ontem botei duas cucharras numa terneira ali na mangueira e por acaso peguei as duas né hahaha, então quero dizer que tem coisas que a gente não esquece porque isso ta no sangue então é isso que a gente escreve.
Gadea: Essa permanência na campanha influi na hora de escrever?
Binho Pires: Sem dúvidas.Comecei a escrever mais e melhor, mais em qualidade né, depois que voltei pra cá, porque a vida na cidade é mais agitada tem metas à cumprir eu trabalhava com vendas e é aquela correria, então aqui fora a gente tem digamos que uma facilidade maior para elaborar as idéias né, a gente que também não é muito letrado vai se virando, com certeza a minha volta pra fora, foi fundamental pra’o desenvolvimento da minha arte.
Gadea: Desde quando tu escreve, foi incentivo de alguém, quando começou?
Binho Pires: Começou a brotar sozinho, comecei no colégio com quando eu tinha 15,16 anos mais ou menos com as “paixonites” essas coisas eu começava com sonetos, pois eu gostava muito de Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade, comecei por essa linha, não escrevendo igual a eles claro, mas naquela métrica de soneto de três linhas rimando com quatro ou cinco versos.Depois foi mudando começou a vim mais coisas de campo acho que até por eu ter vivido ter sido um guri campeiro, um guri de fora e depois fui pra cidade, o pai continuou aqui fora, eu vinha nos fins de semana fazíamos alguma lida, e tinha que voltar pra cidade na segunda e aquela vontade de ficar e não podia, aí que começou a vim mais essa coisa campeira, que até minhas primeiras letras são mais voltadas pro saudosismo.
Gadea: Eu acompanho os festivais e pude notar que desde as primeiras composições que foram finalistas e premiadas a maioria tem um cunho mais popular, isso então nos fica claro que tuas composições não são filosóficas e de projeções e sim mais campeiras do dia-dia que é o que o povo gosta mesmo, é assim intencionalmente ou é isso mesmo que brota na hora da inspiração?
Binho Pires: Tem sim, é as duas coisas um pouco brota e outro pouco também guiado (isso não tem como esconder) pelo mano (Érlon Péricles) que compõe em qualquer linha, mas é uma linha que ele tem mais afeição e gosta mais né, sou um grande admirador também do Elton Saldanha que tem inúmeras letras rebuscadas mas tem muito essa coisa popular da música dele estar na boca do povo e eu sempre me senti atraído por isso, pra mim tem muito mais valor uma letra que eu escuto no rádio do que de repente uma letra que ganha o festival, não desfazendo do festival porque o festival é o nosso meio é a nossa vida vamos dizer, o que a gente gosta e o prazer é ter uma letra no festival, mas se puder ser uma letra popular que o povo goste, que esteje na boca do povo e tocando na rádio melhor ainda.
Gadea: No caso a tua renda não depende do festival, tu escreve por prazer, não tem um compromisso de ter que passar a música num festival???
Binho Pires: É isso aí como um “hobby” mesmo né o que vier é lucro, não ter aquela obrigação de escrever quando vem alguma coisa eu boto no papel , melhora uma frase aqui outra ali vai trabalhando o verso, sem pressa e deixo pronto, tenho essa ligação com o mano, e to muito feliz por ele e ele me dá essa mão, sempre ta olhando as coisas da gente e motiva a gente também, porque antes eu escrevia e ia guardando, eu sou meio acanhado nessa parte de chegar e mostrar, tem gente que gosta de chegar e mostrar e tal pra fazer a coisa acontecer, eu fico mais na minha e deixo a coisa acontecer ao natural, se acontecer valeu, se não acontecer a gente segue bem tranqüilo.
Gadea: Nos fala dessa letra “Fazendo Cerca” que conquistou o 1º Lugar e música mais popular em Santo Ângelo que praticamente é tua casa onde morou tanto tempo e ver a praça lotada com 5 mil pessoas aplaudindo e cantando tua música.
Binho Pires: Foi uma satisfação muito grande, tenho grandes amigos em Santo Ângelo, grandes amigos, compadres, muito mais amigos lá, que em São Luiz Gonzaga e apresentar uma música inédita que foi ao palco no sábado e domingo tu já ver as pessoas cantando junto o refrão, isso aí é um arrepio uma sensação que a gente sente na hora lá e não tem como explicar só quem escreve ou quem canta compõe ou vive essa coisa da arte da cultura, sente na hora esse arrepio, essa sensação, essa coisa boa essa satisfação de estar participando de um evento e ver as pessoas gostando de uma coisa que foi tu que criou. A inspiração pra “fazendo cerca” foi um senhor chamado Seu “Didi” que veio fazer uma cerca aqui pra nós é um aramador mesmo de profissão trabalha só com isso, contador de causos, um home gaúcho, já foi capataz de estância tem 72 anos, cavoca num “verãozão” de quarenta graus e sai com a cavadeira nas costas sem camisa, de bombacha o home é uma legenda, aqui em São Luiz tem muito dessa gente, foi uma das inspirações.E outra também é o meu dia-dia eu faço também muito isso, hoje a gente não tem como fugir, eu seria hipócrita se eu dissesse que faço cerca como era na moda antiga, se hoje se trabalha com cerca elétrica e outras coisas que a modernidade nos oferece pra facilitar, mas eu também atei muito pedaço de cerca aí, soquei muito palanque, cavo buraco, nessa lida eu destrincho de tudo comigo não tem ruin.
Gadea: Tu mora aqui há 15Km da cidade, zona rural, trabalha no campo, no sistema antigo e ao mesmo tempo tem contato com o mundo, porque a noite tu dá “umas tentiadas” na internet porque tem um computador aqui fora é isso? Nos fala sobre essa mescla de tradição e modernidade já que é a tua realidade...
Binho: É uma coisa que não tem como fugir né tchê, se tu pode ter a facilidade da internet de mandar um e-mail, até de mandar uma letra, de certo eu vou ir na cidade mandar pelo correio uma letra daí chega no destino o cara não gosta de uma coisa responde a carta manda de volta, claro que muito tempo foi assim mas hoje temos outros meios que podem ser usados sem deixar de cantar o romantismo, a coisa campeira as nossas tradições, as coisas que nossos ancestrais fizeram e que hoje a gente canta e gosta e faz também , mas tem outras ferramentas que também tem que ser usadas né, e a internet é uma delas que pra mim é fundamental pois uso muito gosto pra fazer pesquisas escrevo noventa e nove por cento das minhas letras no computador e escrevo no papel também mas mais no computador. Então pra mim é indispensável.
Expectativa pro futuro: É fazer letras, mete calando, e ver o povo cantando, de vez em quando ganhando mais popular e o festival, poder dar uma volteada e se não ganhar poder estar com os amigos.
Uma palavra que te defina: sinceridade
Uma frase: Olha tchê, Cava que cava, soca que soca que nem tatu abrindo toca, fazendo cerca na bossoroca...
Um livro: Allan Kardec, Paulo Coelho, principalmente literatura espírita
Uma música: Rio Grande Véio...
Um Filme: a espera de um milagre
Arrependimento: Me arrependo de não ter estudado mais...na época certa que eu devia ter estudado...não chega a ser um arrependimento mas é uma etapa que ficou pra trás que eu poderia ter feito diferente
Um sonho: de poder criar bem a minha filha, e poder viver muito tempo feliz com a minha família e minha mulher esse é meu sonho que já tá realizado e espero que continue assim.
Esse é o meu irmão!!! Não posso ser modesta nesse momento, porque preciso dizer que esta família minha só me dá orgulho e felicidade, não tem no meu mundo coisa melhor que esta família Borges Pires que se deu da união do Milo e da Maria! Grande abraço e obrigada Léo por esta entrevista com meu amado mano.
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