segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Luciano Maia (Produtor musical, arranjador, instrumentista, compositor e intérprete)

por Leonardo Gadea – 13/11/2010 – Bastidores da 18ª Tertúlia da Canção Nativa.

Entrevista concebida exclusivamente para www.pulperia.blogger.com.br

Quanto tempo de trabalho? Nos fala da tua trajetória...

Eu comecei a tocar com 9 anos de idade, mas geralmente a gente conta o tempo de carreira a partir dos discos, e o primeiro disco que gravei eu tinha 16 anos. Antes disso eu morava em Pelotas (minha terra natal onde comecei a tocar dentro das entidades tradicionalistas, CTGs e tal...) daí fui morar em Porto Alegre; com 14 anos de idade (1994) comecei a freqüentar os festivais nativistas a convite do Joca Martins e Fabiano Bacchieri, com 16 anos gravei pela primeira vez com o Grupo Quero-Quero e dalí adiante fui trilhando meu caminho, saí do Quero-Quero em 1998, voltei pra Pelotas e lá comecei a projetar meu primeiro disco que lancei em 2008 (mas foi gravado um pouquinho antes) e fazia parcerias, trabalhava com vários músicos que na época tavam passando por Pelotas, pois lá tava fervendo muito essa coisa do nativismo, moravam por lá na época o Jari Terres, Luiz Marenco, Joca Martins, Fabiano Bacchieri, Cristiano Quevedo, enfim um monte de gente que acabava gerando muito trabalho e foi onde eu me inseri no meio dos festivais e comecei a carreira nos festivais como instrumentista, como arranjador e comecei a gravar meus discos, então hoje tenho 5 discos gravados, 4 instrumentais e esse 5º agora, que é cantando (eu digo cantando porque intérprete foi uma coisa que aconteceu agora a pouco com os festivais (risos), então esse disco é metade instrumental e metade cantado onde eu mostro composições minhas em parceria com Aléx Silveira, Anomar Danúbio Vieira, Gujo Teixeira , Gaspar Machado que foi uma pessoa importante nessa decisão de eu começar a cantar, foi quem me incentivou de vez mesmo porque mostrei uma composição pra ele, quando ele tava no hospital meio ruin de saúde e eu não tinha quem gravasse uma música que fiz em parceria com ele e acabei gravando na minha voz e ele gostou muito, daí colocou uma pilha pra que eu mesmo cantasse. A partir daí começou essa idéia de começar uma carreira pelos festivais, no meio regional cantando...

- (interrompo ele pra dizer que, pelo que temos visto tem sido bem sucedida) ele diz graças a DEUS tem dado certo mesmo, tenho conquistado novos parceiros como o Zeca Alves, por exemplo que tem nos dado a parceria pra gente começar a fazer coisas juntos, tenho uma parceria com ele que se chama “Talareando”, a qual vamos apresentar no Musicanto, tem outra pronta que ele nem ouviu ainda.

Comecei a carreira nos festivais como intérprete a partir de março/abril desse ano, então é uma coisa bem recente, este, acho que é o sétimo ou oitavo festival que canto, geralmente coisas minhas, em setembro em Alegrete cantei uma composição do Juliano Gomes e Eduardo Soares onde tiramos segundo lugar, então tenho tido uma história bonita porque ganhei o festival de Caxias, esse segundo em Alegrete, ganhei o festival de São Gabriel, a gente ta hoje aqui na volta da Tertúlia que é um festival importante, de onde saíram grandes intérpretes , grandes sucessos da nossa música, então cantar na Tertúlia é muito importante porque a região de Santa Maria é uma das grandes regiões do nosso estado e estar aqui na Tertúlia nada melhor pra divulgarmos nosso trabalho, nosso nome e nossas composições; Paralelo com isso continuo tocando minha carrreira instrumental, até foi uma correria pra chegar aqui em Santa Maria no sábado eu fiz questão de estar aqui cantando, até convidei o Gustavo Teixeira pra cantar comigo porque eu estava com medo de não chegar a tempo porque eu estava em Juazeiro na Bahia e o vôo chegava em Porto Alegre as 15:00h então eu tava meio assustado, mas fiz questão de tá aqui. E tava lá em Juazeiro – BA defendendo meu outro lado como instrumentista e minha carreira instrumental, fui participar de um festival internacional de sanfona (como eles chamam lá) a convite do Renato Borghetti, onde dividimos o palco com Dominguinhos, Valdones, Targino Gondim que é outro importante músico brasileiro, estavam lá também Mirco Patarini (presidente da Scandalli, talvez a melhor a fábrica de acordeon do mundo), Frank Marocco (Acordeonista Americano) e como já citei o Dominguinhos que hoje em dia é a nossa figura mais ilustre tocando acordeon e cantando.

Então Gadea é isso aí vim de lá, estamos aqui participando do festival, trabalhando, é isso aí, a história tem andado por esse lado, to projetando um disco pro ano que vem, to classificado no Musicanto, na Califórnia. Estou trilhando essa carreira dos festivais porque acho importante pra gente ganhar experiência, pra construir um repertório, fazer com que o nome da gente se divulgue, afinal de contas o que estamos fazendo nesse momento é uma entrevista e isso vai fazer com que mais pessoas conheçam e tenham acesso ao meu trabalho.

Planos pro ano que vem?

Pro ano que vem estou projetando 3 discos, não sei se vou conseguir lançar todos mas pretendo gravá-los, gravo um meu cantando, outro em parceria com o Gujo Teixeira (que estamos vendo a possibilidade de lançarmos ano que vem ou não), e um instrumental, porque tem essa demanda ainda no mercado internacional esse ano fui à Europa (Londres na Inglaterra). Então preparo esses 2 discos e o instrumental pra termos duas linhas de trabalho o campo instrumental e o meio regional aqui no Rio Grande do Sul e além disso tenho tido a idéia de que o meu trabalho seja cada vez mais brasileiro também, então buscar novos parceiros fora daqui pra gente poder divulgar...mais oue menos isso aí...

Qual estilo musical tu apresenta nesses shows fora do Rio grande do Sul e do exterior?

Eu apresento a mesma coisa que a gente toca em um festival ou show aqui no Rio Grande do Sul, apresento composições minhas, chamamé, milonga, polca, o mesmo foco de trabalho, porque acho que a gente não pode ter duas caras né, pelo menos é o que acho pro meu trabalho, creio que o público acredita na gente quando a gente fala a verdade, embora eu tenha um campo muito vasto de trabalho, porque sou produtor musical, músico de estúdio, arranjador, enfim, agora virei intérprete, mas o meu trabalho sempre é direcionado as coisas do Rio Grande do Sul, aos ritmos gaúchos e as minhas composições, ou seja, o que estão nos meus discos. Agora faço um concerto com a orquestra da Fundarte tocando Piazzolla dia 20 da semana que vem em Panambi, (é uma outra linha que agora está se abrindo) mas sempre de bota, de bombacha, de boina com a verdade da gente, porque eu só tenho essa maneira aí...(risos).

Como é a receptividade das pessoas com a música regional gaúcha no Exterior e em outras regiões do Brasil?

No exterior eles são muito receptivos, na Europa principalmente que é um público que tem acesso a todas as culturas, enfim, é um público muito preparado, educado. No Brasil tocamos agora em Juazeiro na Bahia e o público também educadíssimo eram umas 10 mil pessoas mais ou menos e foi maravilhoso (tocamos um show instrumental eu e o Renato Borghetti). Em Londres a receptividade do meu trabalho deu super certo; eu tenho uma linguagem jazzística também porque estudei isso, então eu vou tocar uma milonga um chamamé, mas como vamos tocar pra um pessoal que tem uma informação um pouco diferenciada que não é só as coisas do Rio Grande do Sul a gente utiliza de artifícios como o improviso principalmente, mas o pessoal aceita muito bem, eu não tenho nada a reclamar, nem em outros lugares do país, nem fora do país (minha experiência não é muito grande ainda fora do país),mas onde tenho tocado tem dado muito certo, e é isso aí...se virando!!!

O que tens a dizer sobre o Pulperia.blogger?

Tenho a dizer que o Pulperia é um meio de comunicação importantíssimo, inclusive eu acesso, se não todos os dias a cada dois três dias a gente olha pra saber as notícias dos colegas, saber o que está acontecendo no nativismo, afinal de contas é o nosso mundo aqui no Rio Grande do Sul, então parabenizo o trabalho deles, porque realmente é um meio de informação muito importante, pode ter certeza que 90% dos músicos estão ligados no Pulperia, porque é onde a gente descobre o que está acontecendo no nosso meio regional, cada vez mais os espaços grandes dificultam nosso acesso, mas acho que a gente tem que tentar buscar espaço através de sites, blogs, enfim todo e qualquer espaço que venham à somar pra nossa cultura regional, pra gente é muito bom.

Uma frase pra finalizar...

Não sou muito de frases prontas assim Gadea, mas gosto de uma palavra que norteia minha história, que é SIMPLICIDADE, acho que sempre que se trabalha com simplicidade e fala a verdade, a gente é bem aceito, nunca me enganei (nunca perdi como diz o Pirisca), nunca perdi, quando agi dessa forma, então acho que ter simplicidade na vida e tocar a verdade da gente, é o que podemos fazer de melhor, afinal de contas, fizemos música e se fosse fazer só pra nós, fazia dentro de um quarto ou estúdio, mas não é, o nosso objetivo e tocar o coração das pessoas e acho que a SIMPLICIDADE é o que nos dá esse poder.

Entrevista com Marcelo Caminha (instrumentista, arranjador, compositor e produtor musical)

por Leonardo Gadea – 13 / 11 / 2010 – Bastidores da 18ª Tertúlia da canção nativa

Entrevista concebida exclusivamente para o www.pulperia.blogger.com.br

Sobre a participação na 18ª Tertúlia?

Estamos na noite final da 18ª Tertúlia, um festival do qual nunca tinha participado, comecei numa época muito boa dos festivais na década de 85, quando a Tertúlia estava ao meu ver no seu auge, na época da 5ª ou 6ª Edição mais ou menos, quando saíram aqueles LPs com músicas que se tornaram mais conhecidas, aquilo ali pra mim foi um marco muito importante porque os LPs dos festivais eram muito importantes. Naquela época lembro que a gente adquiria os LPs e ficava ano inteiro escutando, tirando as músicas, tentando conhecer os artistas que até então estavam ali e aos quais não se tinha acesso porque éramos iniciantes. A partir da década de 90 comecei a trabalhar efetivamente nos festivais como instrumentista e também como compositor, mas sempre focando na premiação de melhor instrumentista dos festivais, hoje acumulo seguramente mais de 50 premiações de melhor instrumentista nesse período que participei dos festivais. Entre 1990 e 2005 participei de quase todos os festivais e em dezembro de 2005 na Califórnia participei pela última vez concorrendo em festival, porque resolvi parar um pouco de participar como concorrente.

Mas quando fiquei sabendo do ressurgimento da Tertúlia eu não sei porque cargas d’água me deu um estalo de mandar uma música pra triagem, e essa música que enviei estava nesse período sendo gravada pro disco do Pepeu Gonçalves este que a interpretou aqui no festival, é uma parceria minha e do Gujo Teixeira e tem por título “Chamando a Cria”; tocaram os músicos Maykell Paiva - Violão, Felipe Alvares - Contrabaixo , Marcelo Caminha Filho - Percussão, Eu – Violão.Então estávamos mixando, colocando arranjos e voz nessa música pro disco do Pepeu e tal, daí pensei vou mandá-la, mas aquela coisa, nem dei muita bola porque não temos essa pretensão de que tudo que é música vai passar, até nem lembrava que tinha mandado porque são tantas coisas, compromissos. Daí passou e recebemos essa notícia muito felizes, então pensei em nos organizarmos dentre tantos compromissos e shows pra vir participar. Então eu acho que a Tertúlia é um festival que estava fazendo falta neste cenário dos festivais, como um dos esteios dos festivais, porque se não me falha a memória ela é o terceiro festival mais antigo do estado (primeiro é a Barranca e segundo a Califórnia). Enfim é um festival que tem a sua importância, que tem na sua história grandes músicas como “Canto Alegretense” por exemplo, uma das músicas mais representativas do Rio Grande do Sul, saiu desse festival; então estamos muito felizes por esse festival ter voltado e esperamos que a comunidade santamariense entenda sua importância e, principalmente as próximas administrações que virão, espero que seja do conhecimento delas que o festival é importante pra que a cidade mantenha esse festival.

E sobre teus trabalhos no exterior (Europa) como é a receptividade do público nos outros países com a música regional gaúcha?

A experiência que tive com a música gaúcha fora do Brasil é que a nossa música é muito pouco conhecida como música brasileira, ela é mais conhecida como música Argentina e Uruguaia; eu estive na Alemanha, Inglaterra e Portugal foram as três oportunidades que tive de ir lá pra Europa e muito poucas pessoas sabem que esta música que a gente faz com essa cara do folclore pampeano, latino, mais latino do que propriamente brasileiro ela é feita no Brasil, existe muito essa coisa de não entenderem que são brasileiros que fazem esse tipo de música porque eles acham que só se toca samba aqui no Brasil.

Mas essas oportunidades que surgem eventualmente de sair do Brasil e até sair daqui do Estado, são oportunidades que acontecem, mas eu tenho muito de valorizar o nosso público do Rio Grande do Sul e aqui do sul do Brasil, eu já diria do Sul do Brasil porque hoje temos três estados que são irmãos de cultura, não é só o Rio Grande do Sul. E o trabalho que tenho feito, tem sido efetivo em cima desse público.

E os discos? E outros trabalhos?

Eu tenho 12 anos de carreira solo, com discos gravados (instrumentais) e agora este ano lancei um DVD que é um curso de violão (vídeo/aula) mostrando como toco os ritmos gaúchos no violão. Esse trabalho se encontra na loja virtual do site www.marcellocaminha.com ou comigo nos shows, são as únicas formas de adquirir esse material porque é de produção própria, porque em 2008 quando lançamos o CD Influências, achamos que não era mais coerente trabalharmos com gravadoras, então saímos da gravadora que até então havia lançado meus 8 discos anteriores e viramos gravadora Caminha Produções Artísticas e estamos indo muito bem assim, porque o pessoal entende e o comércio pela internet está crescendo muito.O próprio acesso aos blogs está crescendo muito, aos sites, à informação, eu aposto muito na internet como meio moderno de troca de informação, aliás, aposto tudo praticamente nisso aí, acho que não temos mais como não entrarmos nesse mundo das redes sociais, inclusive tenho um blog também que mantenho com orientações específicas sobre o DVD (vídeo/aula) que é um material didático e neste blog se encontram complementos para o DVD mostrando, cifras, partituras e tablaturas. Enfim, temos feito vários shows de lançamento desse trabalho inclusive aqui em Santa Maria no Teatro Treze de Maio mês passado, estamos com uma turnê de 12 shows marcados em janeiro e fevereiro pelos 3 estados aqui do sul (Paraná e Santa Catarina) então estamos muito felizes nesse trabalho, e paralelo a isso tenho o trabalho com o César Oliveira e Rogério Melo que venho fazendo, que é um trabalho bastante intenso de volumes de shows e viagens e eu me entretenho nessa atividade musical entre esses 2 trabalhos, por esse motivos me ausentei um pouco dos festivais, pra apostar mais nesses trabalhos de palco, nesses shows.

Para finalizar, o que tens a dizer aos leitores do PulperiaBlogger e admiradores da música gaúcha?

Eu tenho um carinho muito grande pelo público gaúcho, pelas pessoas que entendem e sabem escutar a nossa música, que eventualmente escutam outros estilos de música (nada contra outros estilos de música, que estão tomando conta por aí afora), mas eu tenho um orgulho muito grande desse nosso público, que prestigia, respeita e que entende a forma que a gente se manifesta musicalmente, eu sempre digo que para nós artistas o grande patrimônio é o nosso público, cada dia que passa a gente vai aumentando esse patrimônio, conhecendo pessoas, fazendo novas amizades, as pessoas vão tomando conhecimento do trabalho que a gente faz , isso aí eu acho que é o maior fruto que a gente colhe do trabalho de muitos anos que a gente vem fazendo.

Entrevista com Fernando Saccol

por Leonardo Gadea – 12/11/2010 (Bastidores da 18ª Tertúlia da canção nativa).

Quando e porque começaste a cantar?

Comecei nessa lida de intérprete desde piá, por intermédio dos ctg’s cantando nos rodeios artísticos, sempre escutando música nativista e a partir daí foi paixão a primeira vista aí experimentei levar adiante, no início eu comecei bastante cru daí comecei a pegar mais gosto pela coisa então comecei a estudar e levar a vida de intérprete adiante.

Festivais profissionais quando começou?

Meu primeiro foi na Bicuíra em Rio Grande, quando passamos uma música lá de Rosário e eu era piazote, ainda cantava em festivais amadores, então passamos essa música e daí fui defender, a partir daí foram surgindo novos contatos, amizades principalmente e eu fui estudando e me dedicando, e as coisas foram aparecendo aos poucos. Depois se abriram novas portas, surgiu oportunidade de cantar na gauderiada, depois festival do cooperativismo junto com Jorge Freitas e Leonardo Paim numa música do Fábio Prates e Mauro Dias. Desde então venho me dedicando o quanto posso fazendo amizades que é o mais importante e sempre com muito amor pela música.

Soma hoje quantos anos cantando em festivais?

Canto em festivais profissionais a uns 4 ou 5 anos e no geral em torno de 10 anos.

Como tu te sente hoje, em vir cantar nessa retomada da Tertúlia (após 11 anos sem acontecer), que é um dos festivais pioneiros?

Como eu já havia te dito eu sempre acompanhei os festivais, pelas rádios e até mesmo pelos Cds de festivais, então reabrir a Tertúlia cantando a primeira música concorrente a subir ao palco é uma responsabilidade muito grande, porque é um festival “consagradíssimo”, é uma emoção inexplicável, estando com pessoas maravilhosas que foram comigo ao palco, e estando no meio dos compositores e intérpretes que eu sou fã e que muitos deles me inspiraram pra começar a cantar, é indescritível uma emoção muito grande mesmo, fora de sério. Mas tu pode ter certeza que minha apresentação foi com todo amor, carinho, respeito e dedicação ao festival, aos músicos, ao público e principalmente o amor pela música.

Que música cantaste? Quem eram os autores?

Cantei “Quando a lida se termina” do seu Gaspar Silva em parceria com Volmir Coelho. Eles me deram esse presente que eu não esperava, quando ele fez o convite fiquei sem palavras, foi um troço inexplicável, porque o Coelho é um cara que sou fã do trabalho dele, devido ao modo simples que ele compõe e eu não imaginava que ele me convidaria pra cantá-la, tanto que a música passou na triagem na voz dele.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Entrevista com Binho Pires (Compositor e Produtor Rural) 20 de Fevereiro de 2009 – Laranja Azeda – São Luiz Gonzaga. às 18:00h.

Gadea: Nos conta um pouco da tua vivência na zona rural?

Binho Pires: Minha história começou aqui em São Luiz Gonzaga distrito da Laranja Azeda, onde meu pai e minha mãe já moravam, foi aqui que nasci, então meu pai lidava com o campo lidou a vida inteira (e lida até hoje) e minha mãe era professora, então dessa convivência com o pai de ir pro campo, tínhamos umas terras no pontão com pastagens então levávamos gado pra lá no inverno, tudo que aprendi de campo, de lida, com gado, cavalos e ovelhas eu aprendi com meu pai até meus 12 anos, quando então, terminou minha etapa no colégio que estudava aqui próximo, daí tive que ir pra Santo Ângelo, onde começou minha vida urbana até meus 29, nesse tempo morei em Cascavel em São Sepé rodei por aí um poco, morei na cidade aqui em São Luiz e há três anos estou de volta aqui fora, onde lido com leite que até economicamente não me foi muito rentável financeiramente, mas como qualidade de vida estou muito feliz de estar criando a minha filha aqui onde eu me criei, junto com minha esposa onde passamos bastante tempo junto com nossa filha, se estivéssemos na cidade não seria assim pois ela estaria em uma creche sendo cuidada por outras pessoas, então é uma opção de vida que me faz muito feliz.

Gadea: E o dia-dia no campo, a rotina?

Binho Pires: O meu trabalho é um poco diferente do dia-dia do campeiro que a gente canta, que a gente idealiza numa letra, porque nessa minha região, que é uma região de fronteira, mas não é bem fronteira, tem muito pouca estância e gado mesmo né, essa cultura do soja e do trigo foi tomando conta dessa região, por exemplo aqui estamos cercado por todos os lindeiros a nós, é só plantio.Então a minha lida é mais com leite mesmo nessa lida de ordenhadeira, e a gente tem um “gadinho” num fundo de campo que quando o pai lida dou uma mão, daí a gente traz, banha, remédios pros vermes, fizemos essas coisas que todo mundo sabe. Mas continua a veia campeira no sangue, inclusive ante ontem botei duas cucharras numa terneira ali na mangueira e por acaso peguei as duas né hahaha, então quero dizer que tem coisas que a gente não esquece porque isso ta no sangue então é isso que a gente escreve.

Gadea: Essa permanência na campanha influi na hora de escrever?

Binho Pires: Sem dúvidas.Comecei a escrever mais e melhor, mais em qualidade né, depois que voltei pra cá, porque a vida na cidade é mais agitada tem metas à cumprir eu trabalhava com vendas e é aquela correria, então aqui fora a gente tem digamos que uma facilidade maior para elaborar as idéias né, a gente que também não é muito letrado vai se virando, com certeza a minha volta pra fora, foi fundamental pra’o desenvolvimento da minha arte.

Gadea: Desde quando tu escreve, foi incentivo de alguém, quando começou?

Binho Pires: Começou a brotar sozinho, comecei no colégio com quando eu tinha 15,16 anos mais ou menos com as “paixonites” essas coisas eu começava com sonetos, pois eu gostava muito de Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade, comecei por essa linha, não escrevendo igual a eles claro, mas naquela métrica de soneto de três linhas rimando com quatro ou cinco versos.Depois foi mudando começou a vim mais coisas de campo acho que até por eu ter vivido ter sido um guri campeiro, um guri de fora e depois fui pra cidade, o pai continuou aqui fora, eu vinha nos fins de semana fazíamos alguma lida, e tinha que voltar pra cidade na segunda e aquela vontade de ficar e não podia, aí que começou a vim mais essa coisa campeira, que até minhas primeiras letras são mais voltadas pro saudosismo.

Gadea: Eu acompanho os festivais e pude notar que desde as primeiras composições que foram finalistas e premiadas a maioria tem um cunho mais popular, isso então nos fica claro que tuas composições não são filosóficas e de projeções e sim mais campeiras do dia-dia que é o que o povo gosta mesmo, é assim intencionalmente ou é isso mesmo que brota na hora da inspiração?



Binho Pires: Tem sim, é as duas coisas um pouco brota e outro pouco também guiado (isso não tem como esconder) pelo mano (Érlon Péricles) que compõe em qualquer linha, mas é uma linha que ele tem mais afeição e gosta mais né, sou um grande admirador também do Elton Saldanha que tem inúmeras letras rebuscadas mas tem muito essa coisa popular da música dele estar na boca do povo e eu sempre me senti atraído por isso, pra mim tem muito mais valor uma letra que eu escuto no rádio do que de repente uma letra que ganha o festival, não desfazendo do festival porque o festival é o nosso meio é a nossa vida vamos dizer, o que a gente gosta e o prazer é ter uma letra no festival, mas se puder ser uma letra popular que o povo goste, que esteje na boca do povo e tocando na rádio melhor ainda.

Gadea: No caso a tua renda não depende do festival, tu escreve por prazer, não tem um compromisso de ter que passar a música num festival???

Binho Pires: É isso aí como um “hobby” mesmo né o que vier é lucro, não ter aquela obrigação de escrever quando vem alguma coisa eu boto no papel , melhora uma frase aqui outra ali vai trabalhando o verso, sem pressa e deixo pronto, tenho essa ligação com o mano, e to muito feliz por ele e ele me dá essa mão, sempre ta olhando as coisas da gente e motiva a gente também, porque antes eu escrevia e ia guardando, eu sou meio acanhado nessa parte de chegar e mostrar, tem gente que gosta de chegar e mostrar e tal pra fazer a coisa acontecer, eu fico mais na minha e deixo a coisa acontecer ao natural, se acontecer valeu, se não acontecer a gente segue bem tranqüilo.

Gadea: Nos fala dessa letra “Fazendo Cerca” que conquistou o 1º Lugar e música mais popular em Santo Ângelo que praticamente é tua casa onde morou tanto tempo e ver a praça lotada com 5 mil pessoas aplaudindo e cantando tua música.

Binho Pires: Foi uma satisfação muito grande, tenho grandes amigos em Santo Ângelo, grandes amigos, compadres, muito mais amigos lá, que em São Luiz Gonzaga e apresentar uma música inédita que foi ao palco no sábado e domingo tu já ver as pessoas cantando junto o refrão, isso aí é um arrepio uma sensação que a gente sente na hora lá e não tem como explicar só quem escreve ou quem canta compõe ou vive essa coisa da arte da cultura, sente na hora esse arrepio, essa sensação, essa coisa boa essa satisfação de estar participando de um evento e ver as pessoas gostando de uma coisa que foi tu que criou. A inspiração pra “fazendo cerca” foi um senhor chamado Seu “Didi” que veio fazer uma cerca aqui pra nós é um aramador mesmo de profissão trabalha só com isso, contador de causos, um home gaúcho, já foi capataz de estância tem 72 anos, cavoca num “verãozão” de quarenta graus e sai com a cavadeira nas costas sem camisa, de bombacha o home é uma legenda, aqui em São Luiz tem muito dessa gente, foi uma das inspirações.E outra também é o meu dia-dia eu faço também muito isso, hoje a gente não tem como fugir, eu seria hipócrita se eu dissesse que faço cerca como era na moda antiga, se hoje se trabalha com cerca elétrica e outras coisas que a modernidade nos oferece pra facilitar, mas eu também atei muito pedaço de cerca aí, soquei muito palanque, cavo buraco, nessa lida eu destrincho de tudo comigo não tem ruin.

Gadea: Tu mora aqui há 15Km da cidade, zona rural, trabalha no campo, no sistema antigo e ao mesmo tempo tem contato com o mundo, porque a noite tu dá “umas tentiadas” na internet porque tem um computador aqui fora é isso? Nos fala sobre essa mescla de tradição e modernidade já que é a tua realidade...

Binho: É uma coisa que não tem como fugir né tchê, se tu pode ter a facilidade da internet de mandar um e-mail, até de mandar uma letra, de certo eu vou ir na cidade mandar pelo correio uma letra daí chega no destino o cara não gosta de uma coisa responde a carta manda de volta, claro que muito tempo foi assim mas hoje temos outros meios que podem ser usados sem deixar de cantar o romantismo, a coisa campeira as nossas tradições, as coisas que nossos ancestrais fizeram e que hoje a gente canta e gosta e faz também , mas tem outras ferramentas que também tem que ser usadas né, e a internet é uma delas que pra mim é fundamental pois uso muito gosto pra fazer pesquisas escrevo noventa e nove por cento das minhas letras no computador e escrevo no papel também mas mais no computador. Então pra mim é indispensável.

Expectativa pro futuro: É fazer letras, mete calando, e ver o povo cantando, de vez em quando ganhando mais popular e o festival, poder dar uma volteada e se não ganhar poder estar com os amigos.

Uma palavra que te defina: sinceridade

Uma frase: Olha tchê, Cava que cava, soca que soca que nem tatu abrindo toca, fazendo cerca na bossoroca...

Um livro: Allan Kardec, Paulo Coelho, principalmente literatura espírita

Uma música: Rio Grande Véio...

Um Filme: a espera de um milagre

Arrependimento: Me arrependo de não ter estudado mais...na época certa que eu devia ter estudado...não chega a ser um arrependimento mas é uma etapa que ficou pra trás que eu poderia ter feito diferente

Um sonho: de poder criar bem a minha filha, e poder viver muito tempo feliz com a minha família e minha mulher esse é meu sonho que já tá realizado e espero que continue assim.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Entrevista Exclusiva com Érlon Péricles

Entrevista Exclusiva com Érlon Péricles

25 de Janeiro de 2010 às 15:00 hs

Ruinas de São Miguel das Missões - RS